quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A loja de Vidros


Ela sempre gostou de ir a loja de vidros, de observar as pessoas se moverem dentro dela.
Ver a delicadeza com a qual lidavam com os objetos, a minúcia de cada olhar,olhares atentos, preocupados... encantados. Amava notar como cada tinido de vidro alertava a brutalidade de um gesto mal medido, mal pensado, mal realizado.
Gostava de ficar ali.. sem ser notada, uma observadora nata.Gostava de ouvir as pessoas falarem baixo próximo as prateleiras, ela dizia que parecia que eles não queriam acordar os vidros, nem assustá-los com suas vozes estridentes.. sussurravam palavras.. conversavam a meia voz cuidadosamente e delicadamente.
Também lhe agradava ver as transparencias das peças.. notar as pequenas imperfeições de algumas peças que ao seu ver era o mais perfeito exemplo de beleza, sentia-se feliz em ver as nuances de cor em cada peça, de ver o translúcido dos vidros colorir-se a aproximação de cada cliente como se a pecinha de vidro tivesse encontrado a paixão de sua vida e corou, só não se agradava de ver a mesma pecinha perder a cor a cada abandono que sofria quando aquele que a fez corar partia.
Sempre que ia até a loja de vidros ela se sentia em casa, amava incontestavelmente aquele lugar... passava horas a andar por seus corredores, sentia-se plena ao ver suas peças... sentir suas energias. Ela sempre se perdia em delírios ali, sem cansar-se, nem entediar-se naquele lugar. Ali tudo era mágica, tudo era alegria.. tudo era encanto.
E de lá do seu canto ela notava que somente ali sua vida tinha encanto.
Sentia-se retratada lá, a loja era como sua vida, suas histórias e os vidrinhos como sua alma, frágil, delicada, transparente.Por vezes , assim como as peças da loja era bem acolhida, vista com ternura, cuidada com respeito e amor, era bem quista, sentia-se bem pelas pessoas se preocuparem com sua fragilidade e enxergarem beleza em sua singularidade; por outras assim como os vidrinhos mais antigos era abandonada ali, esquecida por ser transparente demais pra despertar interesse, sua beleza era simples demais pra encantar olhos fúteis... e isso a tornava por longos períodos gélida , desencantada, desacreditada de que um dia ainda ia corar mais uma vez a aproximação de um alguém.
A garota que todos os dias visitava a loja de vidros se via naquelas prateleiras, conhecia cada peça como conhecia a si mesma, sentia que tudo ali dentro era parte dela, que aquele lugar só se traduzia em algo tão particular, tão intimo, tão pertencente a ela que chegava a crer que ali era o reflexo de sua alma, porque como na loja ela também era resistente por fora, era normal, rústica, seca,mas que assim como a loja em seu interior, ali onde poucos conseguiam enxergar..nas mais distantes prateleiras da vitrine principal, aquelas que sempre possuíam um pouco de pó, ali residia sua verdadeira força, beleza, delicadeza... e seu amor... tão forte, tão resistente, tão atraente e tão frágil a ponto de passar despercebida.
A loja de vidros nada mais era do que aquela doce menina que sorria a quem se aproximava, sempre tão prestativa, tão atenta as necessidades dos demais que se esquecia de si mesma, e que sem grandes planos vivia a espera de um alguém tão transparente e singelo a ponto de reconhecer nela toda a beleza que possuía e que por ela se encantasse infinitamente a cada olhar e pensar, é ela esperava o amor.

sábado, 23 de outubro de 2010

Última Ilusão

Crer...crer é o que move os humanos,é a força motriz de tudo.
Eu nem creio que acreditei, mas sim..acreditei.
Acreditei em você e nas tuas palavras envolventes.Nas falsas verdades que pronunciavas.
Pensei que fosse sincero, que tudo aquilo era pra valer; que finalmente seria eu feliz.Ilusão.. doce e perigosa ilusão, afinal tu és um mágico, dos mais cruéis, daqueles que manipulam corações..mas ainda assim um mágico.
Aceitei. Aceitei aquilo que não concordava, tudo o que me era distinto, e entendi, respeitei, aceitei as diferenças que tínhamos.Vi graça nas tuas imperfeições e me apeguei a elas. Me apaixonei. Tolamente, inocentemente...perdidamente.
Me entreguei a teus encantos, me deixei ficar vulnerável, pensei que seria eterno.. que nunca teria fim e quando percebi que poderia sim ter um fim, ainda assim pensei que seria um fim tranquilo, um fim aceitável.. bem menos confuso e dolorido do que foi.
Contava com a verdade nas tuas atitudes, e me você me surpreendeu; Parabéns.. me feriu como a muito ninguém feria, só porque pensei que eras diferente... que assim como eu não funcionava no ritmo louco desse mundo desfreado chamado Terra. Só porque pensei que também fosse da Lua, que também admirava as estrelas, via a beleza do céu, sentisse o verde do campo e enxergasse as almas, que notasse as energias e nelas confiasse.
Mas não, no fim se mostrou igual a todo humano desumano que aqui habita, cruel, mentiroso, insensível.. me feriu e não notou.Me viu sangrar e nada fez.Permaneceu imóvel.
Te mostrei meus mais íntimos segredos, contei-lhe meus receios, pensei que fosses confiável e você o que fez? Usou minhas fraquezas e nelas golpeou, machucou profundo e partiu.
Dias se passaram e você volta, como se tudo fosse descartável , como se fosse possível esquecer facilmente, pois você esqueceu..mas eu não, não posso mais confiar em ti, perdeste aquilo que me fez cativar, mostrou-se como erva daninha no meu coração... arranquei-o de lá, e não mais regressaras.
Custou, doeu e não voltarei atrás em minha decisão, se hoje sofres terá que viver teu luto; vivi e sobrevivi ao meu, boa sorte.